Minas é o terceiro estado brasileiro que menos testa contra Covid-19, diz IBGE

Minas é o terceiro estado brasileiro que menos testa contra Covid-19, diz IBGE

Por GABRIEL RODRIGUES

 

Desde o começo da pandemia de Covid-19, Minas Gerais tem realizado relativamente menos testes diagnósticos do que outros Estados brasileiros. Em meio a um aumento nacional de doentes e à esperança ainda não confirmada da aproximação de uma vacina, os mineiros continuam sendo a terceira população proporcionalmente menos testada. Em Minas, 9,3% das pessoas fizeram testes até outubro, enquanto a média nacional é 12,1%.

As informações são compiladas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid), do Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde que o dado começou a ser divulgado, em agosto deste ano, Minas se posiciona na lanterna da testagem: 6,1% da população havia sido examinada em agosto, número que subiu para 7,8% em setembro, sempre abaixo da média do país. O número atual corrresponde a cerca de 1,98 milhão de pessoas, e o Estado só fica atrás do Acre e de Pernambuco, onde 7,9% dos habitantes foram testados.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) pontuou repetidas vezes, durante a pandemia, que a testagem em massa nunca foi sua intenção. Em novembro, ela ampliou a recomendação de testagem para pessoas com quadros leves de síndrome gripal e suspeita de Covid-19, mas isso ainda não foi refletido nos números do IBGE. A pasta foi questionada pela reportagem sobre o porquê de Minas estar na retaguarda da testagem e aguarda retorno.

“Se, quando a pessoa chegar ao centro de saúde, for classificada como caso suspeito, fizer o teste e der positivo, o isolamento social dela será mais efetivo. Ela não vai transmitir a doença para outras pessoas e, em dez dias, não transmite mais o vírus. Ele morreu e não passou de pessoa a pessoa na comunidade. Mas, se testarmos a pessoa assintomática, há mais chance de dar falso negativo”, pondera a epidemiologista Aline Dayrell, pesquisadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OSUBH). 

Ela também pontua que, com menos testes que o restante do país, pode haver subnotificação de casos em Minas, porém isso não significa necessariamente que a pandemia esteja pior do que é divulgado no Estado. Os testes seriam importantes para delimitar com maior precisão o número de contaminados, segundo ela, mas as mortes por 100 mil habitantes de Minas são inferiores à taxa nacional e a ocupação de leitos de UTI no Estado também não foi esgotada. "Mas isso não quer dizer que não possamos investir mais e melhor", completa. 

Belo Horizonte

Na capital mineira, o cenário é diferente do restante do Estado. De acordo com os dados da prefeitura, 17,6% da população havia sido testada até o final de outubro, e o número aumentou para 19,7% até o último dia de novembro. Os cálculos levam em conta as notificações oficiais do governo municipal, diferentemente da pesqusia do IBGE sobre Minas, que é baseada nas respostas dos próprios cidadãos. 

O infectologista Carlos Starling, membro do comitê de enfrentamento à pandemia de Covid-19 de BH, também pontua que a baixa testagem não é necessariamente sinônimo de subnotificação. Ele diz que, na cidade, as pessoas com sintomas são testadas, enquanto não seria possível testar todos os assintomáticos. 

 “A testagem não é simplesmente sair testando todo mundo para ver quem teve ou não a doença, isso é inquérito sorológico”, destaca. Starling pontua que os testes do tipo PCR são os mais necessários, já que comprovam a infecção no momento em que a pessoa ainda está transmitindo a doença. 

Brasil

A taxa de diagnósticos positivos de Covid-19 no Brasil aumentou em outubro: 12,1% da da população, ou 25,7 milhões de pessoas, dizem ter feito algum teste até então, e 22,4% tiveram resultado positivo nesse mês. Em setembro, havia sido 22,1%. 

A pesquisa do IBGE também avalia o respeito ao distanciamento social. A quantidade de pessoas que não fizeram qualquer restrição de contatos dobrou entre julho e outubro, subindo de 2% para 4,6%. Ou seja, 9,7 milhões de brasileiros não estão mantendo medidas de distanciamento. 

Já o número de pessoas que mantiveram rigorosamente isoladas caiu quase pela metade. Ele foi de 23,3% para 12,4%, isto é, 26,3% da população. No meio termo, aumentou a quantidade de gente que reduziu contatos, mas continuou saindo de casa e recebendo visitas (93,8 milhões)) e decaiu o número de quem só saiu por necessidade básica (80,7 milhões).