Galo: campeões brasileiros em 1971 vibram com o bicampeonato

Galo: campeões brasileiros em 1971 vibram com o bicampeonato
Vantuir (em pé), Humberto Ramos e Lôla agachados — Foto: Arquivo/Agência O Globo

 

 

 

Por O TEMPO

“Mexe com o coração, claro que a gente se lembra de 1971”. Desso modo, o ex-meio-campo Lôla, expressou seu sentimento logo após o Atlético conquistar o bicampeonato brasileiro, nessa quinta-feira (2), depois de uma virada história sobre o Bahia, por 3 a 2, na Fonte Nova. A viagem no tempo não foi por acaso. Há 50 anos, Lôla e seus companheiros entravam para a história ao desbancar o Botafogo, em pleno Maracanã, e levar para a sede de Lourdes a taça de primeiro campeão brasileiro de futebol.

 

Na noite de quinta, a experiência foi diferente. Da casa do filho em Brodowski, cidade do interior de São Paulo a 30 quilômetros de Ribeirão Preto, onde reside, o ex-jogador teve a sensação de milhões de corações que pulsam em preto e branco e não suportavam esperar nem mais um minuto, após intermináveis cinco décadas de angústia e sofrimento.

“Quando jogava, não sentia esse peso. Torcendo é diferente, embora eu seja uma pessoa tranquila. Tomara que não demore mais tanto tempo (para ser campeão)”, confessou”

Refeito da emoção, Lôla repetiu o que havia externado em outras ocasiões. “Há sete ou oito rodadas, falei que o Galo seria campeão. Sabia disso tudo pelo time, pelo equilíbrio, a qualidade técnica. É merecedor porque tem uma equipe fortíssima”, avaliou.

De sua residência na região da Pampulha, em Belo Horizonte, o ex-zagueiro Vantuir, companheiro de Lôla no título de 1971, também não via a hora da espera terminar. “O coração fica grande, é uma satisfação enorme ver o Atlético campeão e a gente acaba voltando no tempo”, admitiu.

Ao comemorar o bicampeonato alvinegro e destacar a festa que tomou conta da capital mineira desde a noite dessa quinta-feira, Vantuir relembrou a chegada dos campeões de 1971 à cidade. “Havia uma multidão nos esperando na Pampulha. Lembro-me que passamos pela Praça 7 e as ruas estavam tomadas. O Atlético fez uma festa para nós que lotou a sede de Lourdes”, recordou.

Título merecido

Campeão em 1971, Vantuir também estava em campo quando o Galo perdeu o título de 1977, invicto, em pleno Mineirão. Na cobrança de pênaltis, o São Paulo ficou com a taça. O Atlético ainda bateria na trave em mais quatro oportunidades, ficando com o vice (1980, 1999, 2012 e 2015).

Em 2021, porém, o ex-zagueiro confiava que a conquista não escaparia. “O Atlético foi campeão jogando muito bem e mereceu. O Cuca fez um ótimo trabalho e está de parabéns. Ele é muito bom técnico e demonstrou saber lidar com os atletas. Nunca vi o Cuca 'brigando' com os jogadores à beira do campo, falando mal na imprensa, como muitos costumam fazer. Com isso, foi bem recebido e respeitado”, avaliou.

Lôla também elogiou o trabalho do comandante alvinegro e evitou apontar apenas uma peça como destaque na campanha vitoriosa. “O Hulk foi bem e se identificou muito com a torcida. O Keno, autor dos dois gols contra o Bahia, também joga muito. O Alonso é um zagueiraço, como os volantes Jair e Allan”, detalhou.

Galo de 1971 x Galo de 2021

O time de Cuca conseguiu repetir o feito da equipe dirigida por Telê Santana, em 1971. Em momentos assim, as comparações acabam sendo naturais, embora estabelecer paralelo entre épocas tão distintas acabe sendo algo pouco factível.

“É difícil (comparar) porque é tudo diferente, sem exceção. Todos os campeões da Copa de 1970 pelo Brasil disputaram o Brasileiro de 1971. Só tinha fera, em todos os times. Jogadores maravilhosos. Com o passar do tempo, perdemos muito dessa qualidade. Tínhamos Jairzinho, Paulo Cezar Caju, Gerson, Clodoaldo, Rivellino, Tostão... Era muita gente boa em todos os clubes. Não vou citar o Pelé, porque ele não conta, mas a gente enfrentava Dirceu Lopes, Ademir da Guia”, recorda-se Lôla.

No entendimento do ex-jogador Humberto Ramos, o responsável por colocar a bola na cabeça de Dario em 1971 e garantir o inédito título dos mineiros diante do Botafogo, em pleno Maracanã, há pontos convergentes entre os dois grupos campeões.

“A semelhança do nosso time para o atual é a performance, a regularidade. O time de hoje não é de grandes estrelas, temos de ser realistas. Mas, nosso time também não tinha uma estrela. O Dadá fazia a diferença, marcava muitos gols, mas não era estrela. E, no momento importante, a torcida foi junto e fez a diferença. A torcida junto é outra coisa, é outro time. A torcida do Atlético é maravilhosa”, elogiou.

Humberto Ramos pondera que o Galo bicampeão é mais conjunto do que individualidade, mas elege seu preferido. “O Hulk fez a diferença. É o melhor centroavante do Brasil e tinha de ser o camisa 9 da seleção brasileira. Foi a melhor e grande a contratação do Atlético”, enalteceu.