Em 10 anos, salário mínimo deixa de comprar um tanque de gasolina

Em 10 anos, salário mínimo deixa de comprar um tanque de gasolina

 

 

Por GABRIEL RODRIGUES

 

 

 

É natural que, com a inflação, tudo aumente de preço ao longo dos anos. Mas quem tem a impressão de que os combustíveis se elevaram de forma exagerada e, hoje, pesam muito mais no bolso do que há dez anos está correto. Em abril de 2012, o preço médio da gasolina no Brasil era R$ 2,742. Em abril deste ano, pulou para R$ 7,209, em média, uma alta de 162,5%. No mesmo período de dez anos, o salário mínimo no Brasil avançou percentualmente bem menos: 94,8%, indo de R$ 622 para R$ 1.212. 

Assim, o salário mínimo consegue comprar, em 2022, 58 litros a menos do derivado do petróleo, cerca de um tanque cheio. Em 2012, os R$ 622 bancavam 226 litros. Já em abril deste ano, o salário mínimo de R$ 1.212 compra apenas 168 litros, considerando a média nacional de R$ 7,209 por litro, apurados nesta semana pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). 

A disparidade é ainda maior em Minas Gerais e em Belo Horizonte, onde o preço médio da gasolina é mais alto do que o nacional. Para encher o tanque de 55 litros do carro mais vendido em 2012, o Volkswagen Gol, o consumidor em BH gastava cerca de R$ 277,20, em valores corrigidos pela inflação. Já em 2022, completar o tanque do mais vendido do último ano, a Fiat Strada, que tem a mesma capacidade, sairia a R$ 412,50. Em dez ano, o preço médio da gasolina em BH subiu 172%.

Na atual conjuntura, cogitar que o preço da gasolina retorne ao patamar dos R$ 5 é apenas um sonho, avalia o sócio da Raion Consultoria Eduardo Melo, especialista no mercado de combustíveis. “O dólar caiu, e, mesmo assim, essa redução não chegou à bomba. O que resta é o barril de petróleo e derivados recuar. Mas, no curto prazo, acho isso pouquíssimo provável”, diz. 

Diesel. Em um ritmo ainda mais acelerado do que a gasolina, o diesel também teve uma explosão de preço em dez anos, especialmente durante a pandemia. Em BH, por exemplo, a alta foi de 205% desde 2012 (de R$ 2,084 para R$ 6,373). O combustível, que está no centro dos movimentos grevistas de caminhoneiros ao longo dos últimos anos, subiu praticamente o dobro do salário mínimo. Ao mesmo tempo, o etanol, que sofre pressões quando a gasolina encarece, ficou 152% mais caro na capital entre abril de 2012 e o mesmo mês deste ano, indo de R$ 2,129 para R$ 5,378. 

Nações diversificam estratégias

Apesar de ser um dos dez maiores produtores globais de petróleo, o Brasil tem hoje a 53ª gasolina mais cara entre 170 países, segundo ranking da consultoria Global Petrol Prices. Em meio à crise global na pandemia, aprofundada pela guerra na Ucrânia, países lançam diferentes estratégias para conter as altas no preço. 

Portugal distribui um voucher de desconto desde 2021. A França oferece um subsídio à população. EUA e Itália miram a adoção de fontes alternativas de energia. O Chile, dependente de importações, adota um fundo que reduz imposto quando o petróleo sobe. 

O especialista no mercado de combustíveis Eduardo Melo pondera que soluções para o Brasil podem passar pela revisão da tributação. No último mês, o Senado aprovou um projeto de lei que cria uma conta de estabilização dos aumentos, a exemplo do Chile, e também fornece auxílio de até R$ 300 para motoristas profissionais abastecerem. O texto segue para a Câmara.