Morrem três pacientes que receberam nebulização com hidroxicloroquina no RS

As pessoas que receberam a medicação experimental apresentaram reações adversas algumas horas após a nebulização, conforme os prontuários

Morrem três pacientes que receberam nebulização com hidroxicloroquina no RS
Cloroquina é indicada para o tratamento da malária, amebíase hepática, artrite reumatoide e lúpus Foto: Pixabay / divulgação

Três pacientes que receberam nebulização de cloroquina morreram no hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, no Rio Grande do Sul. As mortes foram confirmadas nessa quarta-feira (24) pelo hospital.

Segundo a instituição, os pacientes receberam a medicação experimental têm documentado em prontuário taquicardia, ou arritmias, algumas horas após receberem a nebulização. "Dois deles já estavam em grave estado geral, com insuficiência respiratória em ventilação mecânica e um deles estava estável, recebendo oxigênio por máscara com boa evolução", informou o hospital sobre os casos que evoluíram para óbito.

A responsável pela realização do procedimento foi a médica que teve a atuação defendida pelo presidente Bolsonaro em uma rádio local no dia 19 de março deste ano. A profissional havia sido desligada do hospital no dia 17, após tentar obrigar uma equipe assistencial a aplicar, via inalação, uma solução com hidroxicloroquina manipulada por ela.

Mesmo afastada do quadro da unidade, a profissional continuou oferecendo o tratamento aos pacientes que chegava na unidade, mas como não há comprovação científica sobre a eficácia da medicação, os médicos se recusavam a prescrevê-la. 

O tratamento só foi autorizado depois que a família de um dos pacientes conseguiu na Justiça uma liminar para receber a nebulização, com a condição de que a médica assumisse a assistência integral no caso. O hospital, então, firmou um termo de responsabilidade com essa e outras famílias de pacientes que tinham interesse no procedimento. No documento, eles declararam ter ciência de que não há comprovação científica a respeito do tratamento e se responsabilizaram, junto com a médica, pelas eventuais consequências. 

Em nota, o hospital Nossa Senhora Aparecida informou que não é possível afirmar que houve relação direta entre os óbitos e a inalação com hidroxicloroquina. No entanto, não há nenhuma indicação de houve melhora. "Os indícios sugerem que (a nebulização) está contribuindo para a piora, porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento", diz o comunicado.

O hospital afirmou que não acredita que a médica responsável pelo procedimento e os familiares, "em momento algum quiseram causar mal aos pacientes", mas reforçou que essa ou qualquer tipo de terapia deve passar por profunda investigação e pesquisa científica antes de ser aplicada.

---

Por O TEMPO