Damião vai buscar ‘voo próprio’ na Prefeitura de BH, sem abandonar memória de Fuad

Novo prefeito tem desafio de imprimir marca própria à gestão respeitando legado do antecessor; mudanças serão graduais, mas devem afetar indicações de Fuad

Damião vai buscar ‘voo próprio’ na Prefeitura de BH, sem abandonar memória de Fuad
Eleito como vice-prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião herdou cadeira de chefe do Executivo após morte de Fuad Noman _Foto: Flávio Tavares / O TEMPO

Por Leonardo Augusto

 

A morte de Fuad Noman (PSD), na última quarta-feira (26), encerrou a curta carreira política do prefeito, mas também finalizou um período de suspense quanto à condução da administração de Belo Horizonte. Daqui para frente, o cenário pressiona o novo chefe do Executivo, Álvaro Damião (União), a dar sua cara à gestão sem romper com o legado do aliado falecido. 

Desde que assumiu interinamente a prefeitura, em 4 de janeiro, após a internação de Fuad, Damião vinha defendendo publicamente que fazia no cargo apenas o que acreditava que o aliado faria se nele estivesse. Na quinta-feira (27), durante o velório do prefeito, Damião manteve o discurso umbilical com Fuad. “Quando eu for inaugurar qualquer obra em Belo Horizonte, é Fuad e Damião. Porque tudo começou com ele”, disse na ocasião.

Porém, aliados do novo chefe do Executivo municipal já dão como certas umas alterações na condução da administração. A interpretação é que a medida se faz necessária até mesmo como planejamento para futuras eleições, já que políticos podem até ter padrinhos, mas precisam também do que nesse meio é chamado de “voo próprio”.

 

Primeiros passos de Damião

Na última sexta-feira (28), Damião se negou a dizer qual marca pessoal pretende imprimir em seu governo. A justificativa dada por ele foi a necessidade de respeito pela proximidade da morte de Fuad. Nos bastidores, porém, é dado como certo que o agora prefeito já ensaia os primeiros passos para imprimir sua identidade à administração da capital mineira.

Tudo será feito de forma gradual, até porque, como lembra um vereador ouvido por O TEMPO, a população votou em Fuad, e não em Damião. Neste sentido, qualquer movimento brusco, diz o parlamentar, poderia o jogar contra a população, colocando em risco a tentativa do substituto de Fuad de se construir como prefeito. 

Um movimento já esperado é a efetivação do único indicado de Damião no alto escalão do governo até agora: o secretário interino de Governo, Guilherme Catunda Daltro. 

Aliados apontam que Damião também deve mexer no círculo mais próximo ao gabinete do prefeito, hoje dominado por indicações pessoais de Fuad. No grupo estão, atualmente, o chefe de gabinete, Daniel da Cunha Messias Roque; o secretário-geral, Luiz Schmitt Prym; o procurador geral, Hércules Guerra; e o secretário de Relações Institucionais, Paulo Lamac.

Embora nunca tenham admitido, interlocutorse dão conta de que havia um embate entre alguns desses quatro e Damião durante a internação de Fuad. Isso ocorria não por conta do então prefeito em exercício, mas por causa de aliados externos do novo chefe do Executivo, que já manifestavam interesse no aumento de poder dentro da administração municipal. Entretanto, correligionários de Fuad afirmam crer que as primeiras alterações a serem feitas por Damião podem ser facilitadas, já que parte dos indicados do prefeito eleito talvez optem por desembarcar do governo.

 

Municipalização do Anel e reforma estão entre prioridades

Na parte “externa” da administração municipal, a que fica mais à vista para a população de Belo Horizonte, há pelo menos duas frentes às quais o novo prefeito, Álvaro Damião (União) deve dar prioridade no primeiro ano de governo: o funcionamento da Coordenadoria de Vilas e Favelas e a municipalização do Anel Rodoviário. Ambas as empreitadas dão continuidade a projetos que são considerados legados de Fuad Noman.

A Coordenadoria de Vilas e Favelas foi uma das novas áreas criadas na reforma administrativa da prefeitura em cumprimento a uma promessa firmada durante a campanha de Fuad à reeleição. O setor foi regulamentado em 30 de janeiro, em decreto que definiu Damião como responsável por supervisionar e orientar as atividades da pasta. Apesar disso, o comando da coordenadoria ainda não foi definido. A expectativa é que o setor seja reforçado a partir de agora. 

Em outra frente, Damião vai dar sequência aos trâmites para resolver um problema que, há décadas, atormenta moradores e prefeitos de BH: o Anel Rodoviário. No decorrer de toda a campanha eleitoral de 2024, Fuad apontava o projeto de municipalização do trecho federal como uma das prioridades em um então eventual segundo mandato. Em novembro, já reeleito, ele foi a Brasília para pleitear diretamente com o presidente Lula (PT) e ministros a transferência da via para a prefeitura.

No último dia 20, o Congresso Nacional aprovou, dentro do Orçamento da União para 2025, recursos para obras no Anel Rodoviário, que ainda permanece sob administração da União. A municipalização – que já está acertada, mas se arrasta há meses por uma série de trâmites legais –, só será concretizada após a execução de melhorias no trecho, a serem conduzidas pelo governo federal. Na semana passada, Damião disse que a municipalização da rodovia poderia ocorrer “a qualquer momento”. 

 

Uma prefeitura, dois partidos

De agora em diante, para definir as composições de cargos do primeiro escalão do governo, Álvaro Damião terá que atuar sob pressão de dois partidos: o União, ao qual é filiado, e o PSD, de Fuad Noman.

Durante o velório do antecessor de Damião, na última quinta (27), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, deu um claro recado ao novo prefeito. “O Álvaro deve essa sua gestão que, se inicia hoje, a uma única pessoa: ao Fuad”, disse o dirigente. Dentro da instância estadual do PSD, porém, a visão é que a legenda terá espaço “natural” na gestão de Damião. 

A reportagem tentou contato com o comando do União em Minas, mas não houve retorno. A sigla, aliás, foi a que mais contribuiu para o comitê de campanha de Fuad nas eleições de 2024, com R$ 7,5 milhões. O PSD ficou em segundo lugar, com R$ 5 milhões.

É esperado, por exemplo, que Damião faça alterações na chefia de algumas das quatro secretarias criadas pela reforma administrativa e que tiveram titulares definidos sob o comando de Fuad. Caberá ao novo prefeito ainda a indicação para a nova regional da cidade, a Hipercentro.