Falta oxigênio na cidade de SP pela primeira vez para tratar pacientes com Covid-19

Desabastecimento fez com que dez pessoas fossem transferidas de UPA; secretário de Saúde pediu empréstimo de cilindros à Fiesp e estuda mudança em lei

Falta oxigênio na cidade de SP pela primeira vez para tratar pacientes com Covid-19
Unidade de Pronto Atendimento de Ermelino Matarrazo, na Zona Leste de São Paulo, registrou falta de oxigênio na sexta-feira Foto: Heloisa Ballarini / Secom/Prefeitura de São Paulo

São Paulo — Pela primeira vez desde o início da pandemia, a prefeitura de São Paulo registrou falta de oxigênio em uma unidade de Saúde. Dez pacientes que recebiam atendimento na UPA Ermelino Matarazzo, na Zona Leste da capital paulista, tiveram que ser transferidos na noite de sexta-feira. Segundo o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, o problema ocorreu devido à falta de fornecimento pela empresa White Martins, principal produtora do insumo no país. A empresa nega problema no abastecimento e se comprometeu a dar mais detalhes ao longo deste sábado.

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As UPAs prestam o primeiro atendimento a pacientes com sintomas de Covid-19. Em casos mais graves, mas que não necessitam de sedação e intubação, o paciente pode ficar internado na unidade e receber oxigênio. Porém, como os hospitais estão muito cheios, algumas UPAs também estão fazendo intubação de pacientes.

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De acordo com Aparecido, o consumo de oxigênio na rede municipal de saúde triplicou de janeiro para março. O salto foi de 55 mil metros cúbicos diários para 178 mil. Para tentar resolver isso, o município pediu ajuda para a  Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e estuda baixar um decreto para regular a distribuição de oxigênio em São Paulo:

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— Seria uma medida emergencial para que seja priorizado o abastecimento de oxigênios nos hospitais públicos, já que a empresa cometeu uma falha importante e o município não pode correr esse risco — disse o secretário.

Com a demanda de oxigênio pressionada pela nova onda da pandemia, Aparecido pediu 250 cilindros emprestados para a Fiesp.

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— A indústria siderúrgica, a mecânica e a estamparia contam com muitos cilindros de oxigênio. A intenção é ter uma reserva para não correr o risco de faltar. Daqui a dois meses, quando a situação melhorar, devolveremos os cilindros. Em condições normais, a gente abastecia as UPAS de oxigênio uma vez por semana. Agora, precisamos abastecer três vezes ao dia por causa do aumento do número de pacientes que chegam com Covid-19 — explicou Aparecido.

 

O secretário contou ainda neste sábado que o Hospital Municipal Doutor Ignácio de Proença Gouveia, também conhecido como Hospital João 23, na Mooca, na Zona Leste, chegou a ficar com uma reserva de apenas uma hora de oxigênio até a empresa fazer o abastecimento.

Levantamento de Frente Nacional de Prefeitos (FNP) realizado entre na última quinta e sexta-feira indica que o oxigênio para pacientes de Covid está prestes a acabar em pelo menos 76 municípios de 15 estados.

Por Gustavo Schmitt O Globo