PERIGO NO AR De novo a dengue: Familiares de vítimas da doença contam a dor da perda
Autoridades de saúde em MG estão em alerta neste período chuvoso, pois há risco de novo surto

A microempresária Lusmar Mariz, de 61 anos, e a diretora de comunicação Luiza Bechtlufft, de 29, moram em Belo Horizonte e não se conhecem. Talvez elas nunca tenham nem se visto. Mas a dengue une as histórias de vida de ambas em um trágico ponto em comum. As duas perderam entes queridos para a doença.No dia 12 de março do ano passado, Raquel Mariz, mãe de Lusmar, de 85 anos, foi uma das 1.139 pessoas que tiveram a morte por dengue confirmada pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais em 2024. Uma partida repentina, que abalou a microempresária.
“Em uma sexta-feira ela foi diagnosticada. Na outra sexta, ela voltou para realizar exames e acabou sendo internada. Na terça-feira, morreu. Não tivemos nem tempo para nos prepararmos. Minha mãe tinha outros problemas de saúde, mas foi a dengue que a levou. A dengue tirou a minha maior referência na vida”, lamenta Lusmar.
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Luiza também se entristece ao falar da morte do pai, Heverson Gomes de Souza, de 54 anos, ocorrida em março de 2016. A diretora de comunicação conta que a doença vitimou o pai em poucos dias, e, como ela morava em outra cidade, não conseguiu chegar a tempo de um último adeus.
“Meu pai vivia com toda a minha família em Itaúna, e eu estava fazendo faculdade em BH. Ele se queixou de uma exaustão, um cansaço, muitas dores nas pernas e os pés inchados. Foi ao pronto-socorro, e o diagnóstico inicial foi de labirintite. Ao voltar para casa, começou a ter uma febre muito alta. Dois dias depois, já foi encaminhado direto para o CTI e intubado. Até o falecimento dele foram sete dias. Quando cheguei, ele já estava se despedindo”, lembra Luiza.
Histórias como a de Lusmar e a de Luiza se repetiram Brasil afora no ano passado, quando o país viveu o mais trágico surto de dengue da história. Foram 6,6 milhões de casos confirmados, com 6.068 mortes. Nesse cenário, Minas Gerais foi o segundo Estado com mais registros (1,3 milhão) e óbitos (1.139), só atrás de São Paulo (2,1 milhões de casos e 2.000 mortes).
Neste ano, Minas confirmou 2.123 casos da doença e investiga três mortes. Apesar de os números estarem abaixo daqueles do início de 2024, o período chuvoso – que é quando o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, consegue se reproduzir mais – e o reaparecimento do sorotipo 3 da doença preocupam autoridades de saúde.
Se, no ano passado, nenhum dos 11.490 casos da enfermidade confirmados nas primeiras três semanas do ano pela SES-MG era do sorotipo 3, neste ano, 56 diagnósticos já constavam no último balanço da pasta divulgado até o fechamento desta edição.
No entendimento de Lusmar, para mudar esse cenário, é preciso que a dengue passe a unir as pessoas de outra forma: no combate à doença. “As pessoas não cuidam umas das outras. É muita sujeira na rua que pode acumular água: um copinho de café que seja, uma lona mal colocada, um quintal que não é limpado. Essas coisas pequenas é que vão se acumulando nas casas das pessoas e que viram foco. Eu posso cuidar da minha casa, mas um vizinho pode adoecer o quarteirão inteiro. É preciso que as pessoas façam as coisas básicas para não se tornarem vítimas”, adverte.
“É muito ruim perder alguém assim”
Quase nove anos depois da morte do pai, Luiza Bechtlufft ainda tenta se adaptar à ausência dele. “A saudade aperta muito! Ela continua, só muda de forma com o passar do tempo. Não existe como preencher o vazio, mas, toda vez que eu me reúno com minhas irmãs e minha mãe, mantemos as mesmas tradições de quando ele era vivo. Sinto que a gente fica próximo de novo”, explica a diretora de comunicação.Diante da dor que Luiza e a família sentem, ela reafirma a importância do envolvimento de todos da sociedade para evitar que novas vidas sejam perdidas por uma doença que pode ser controlada.
“É necessário que toda a comunidade se mobilize junto aos órgãos públicos competentes para começar com a prevenção dentro de casa. As pessoas precisam cuidar de caixas-d’água, vasos de planta, lixo nos lotes vagos. É muito ruim perder alguém assim, e, se a gente puder evitar que outras famílias se despeçam de entes queridos, vamos fazer”, destaca Luiza.
Fique atento
O infectologista Leandro Curi alerta para outras arboviroses que podem ser confundidas com a dengue, por causa dos sintomas. São elas: zika, chikungunya e oropuche. “Por isso é importante buscar orientação médica assim que surgirem os primeiros sintomas para ter o diagnóstico e tratamento corretos”, afirma.
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