Colégio Militar propõe fazer teste rápido em alunos durante aulas presenciais

Exame detecta anticorpos contra o coronavírus e não serve para identificar quem está com Covid-19 no momento da testagem, diz infectologista

Colégio Militar propõe fazer teste rápido em alunos durante aulas presenciais
Foto: Cristiane Mattos

 

Por GABRIEL RODRIGUES | LETÍCIA FONTES

 

O Colégio Militar de Belo Horizonte (CMBH), única escola de ensino básico aberta na capital mineira, propõe que todos os funcionários e os estudantes sejam testados para Covid-19, segundo comunicado enviado aos pais de discentes compartilhado por uma mãe que pediu para não ser identificada e confirmado por outra aluna e um professor.  

O comunicado diz que apenas os alunos que desejarem e tiverem autorização dos responsáveis serão testados, e não informa a periodicidade em que os exames serão realizados. Os testes rápidos, do tipo IgM/IgG, foram anunciados pela escola como “medida sanitária e de segurança”, porém eles não servem para controlar a transmissibilidade da doença, de acordo com a infectologista e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Carolina Ali. 

“No começo da pandemia, utilizávamos muito esse teste porque era o que tínhamos. Mas ele é um inquérito sorológico, um retrato para um estudo de quem já teve a doença, e não aumenta a segurança”, diz a médica. Os testes do tipo IgM/IgG detectam os anticorpos produzidos pelo corpo contra o coronavírus, em vez do próprio patógeno. Ou seja, mostram quem contraiu a doença em algum momento, e não quem está doente e ainda pode transmitir o vírus. O ideal é realizá-los a partir de 14 dias após os primeiros sintomas, indica a especialista. 

“Não tem sentido o aluno ser afastado (se o teste estiver positivo). É uma questão muito polêmica, porque inclusive grandes empresas estão utilizando o teste dessa forma”, continua Ali. Como existem casos de reinfecção comprovados, ter um teste positivo também não é um certificado de que a pessoa está imune a novas contaminações. A professora explica que os testes rápidos de antígeno, outra categoria de exames, seriam mais apropriados para identificar infecções — menos precisos que os do tipo RT-PCR, porém, sequer eles seriam ideais. 

Uma mãe de estudante do colégio diz que a opinião entre os pais sobre a medida está dividida e pondera que a abordagem pode abrir precedente para outras escolas seguirem esse exemplo. “Muitos pais elogiaram a iniciativa para dar mais segurança, mas estão questionando como será a periodicidade dos testes”, completa. 

A reportagem questionou o CMBH se a escola levará o plano de testagem adiante e quando ele será iniciado e aguarda retorno. O Ministério da Defesa também foi procurado para esclarecer se a medida será adotada por todos os colégios militares do Brasil.