Sonhos são caminhos para encontrar quem amamos e que não estão aqui mais

Por LUCIARA OLIVEIRA
Nesta noite sonhei com a minha mãe.
Ela estava linda, maquiada, coisa que raramente fazia.
E me pediu um copo d’água – talvez tenha sido porque Rafinha, na madrugada de forte calor, havia me chamado no meio do sono, pedindo água.
Eu queria abraçá-la, mas ela estava atrás de uma janela, inacessível.
Queria pelo menos pegar suas mãos, mas também era privada disso.
E ela estava falando coisas que costumava dizer no dia a dia. A sua voz era a mesma, seu jeito de se expressar também.
Depois sua imagem se desvaneceu, e ela se foi. De novo.
Sonhar com ela me deixa, ao mesmo tempo, feliz e triste.
Feliz por poder revê-la num lapso temporal, mesmo que confusamente.
E triste porque a falta que ela me faz torna-se ainda mais presente.
Acho que, desta vez, sonhei porque fui à sua casa, estive no espaço outrora habitado por ela.
E uma velha conhecida, ao passar pela rua, perguntou por ela, como ela estava.
Por um instante, pareceu ter paralisado o tempo. Por um instante, tive a impressão de estar num período anterior a fevereiro de 2019. Por um milésimo de segundo, quase respondi: “Tá bem, graças a Deus” (e minha irmã revelou ter tido a mesma sensação).
Não que ela não esteja – eu acredito firmemente que ela está.
Mas foi estranho ter que recobrar a realidade e responder que ela partiu – não era tão óbvio?
Não, não era. Claro que nem todas as pessoas souberam. E não foi a primeira vez que isso aconteceu.
Ter que responder que ela se foi fez renovar a dor e a saudade.
E relembrar aqueles versos de Drummond do poema “Para sempre”, sobre o mistério profundo que é ver a mãe ir embora deste mundo.
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
E olha que eu nem era tão velha assim...
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