INVESTIGAÇÕES PGR deve apresentar denúncia contra Bolsonaro nos próximos dias por tentativa de golpe

Polícia Federal identificou provas de que o ex-presidente participou diretamente do plano que buscava impedir a posse de Lula

INVESTIGAÇÕES PGR deve apresentar denúncia contra Bolsonaro nos próximos dias por tentativa de golpe
Advogados de Jair Bolsonaro (PL) recorreram da decisão do ministro Alexandre de Moraes, que negou a liberação do passaporte do ex-presidente _Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

BRASÍLIA - A expectativa é de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresente denúncia, nos próximos dias, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), indiciado pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe. O procurador-geral, Paulo Gonet, sinalizou a interlocutores que as denúncias serão apresentadas separadamente, começando pelos líderes. A acusação deve apontar que Bolsonaro foi o “cabeça” da organização que supostamente tentou dar um golpe de Estado. 

 

Em seu relatório, a Polícia Federal identificou oito elementos de provas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de forma direta na execução de plano criminoso que buscava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

 

A denúncia será julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Interlocutores também afirmam que a previsão é de que o julgamento ocorra até outubro. No total, a PF indiciou 40 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Os três crimes somam penas de 28 anos de prisão. 

 

"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz o relatório final apresentado pela PF.

 

"O arcabouço probatório colhido indica que o grupo investigado, liderado por JAIR BOLSONARO, à época presidente da República, criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do País desde o ano de 2019, com o objetivo de sedimentar na população a falsa realidade de fraude eleitoral para posteriormente a narrativa atingir dois objetivos: primeiro, não ser interpretada como um possível ato casuístico em caso de derrota eleitoral e, segundo e mais relevante, ser utilizada como fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato JAIR BOLSONARO no pleito de 2022", continua o texto.

Segundo a PF, Bolsonaro atuou nos seguintes fatos:

 

Reunião realizada entre Bolsonaro e a cúpula do Poder Executivo, em julho de 2022, na qual ele convocou os integrantes do governo a agirem antes das eleições para disseminarem fake news sobre a lisura das urnas. O encontro aconteceu 13 dias após a reunião com os embaixadores, realizada com o mesmo objetivo. A PF afirma que, no encontro, outros integrantes do governo, como o ministro da Justiça, Anderson Torres, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, do GSI, Augusto Heleno e o secretário-geral da Presidência em exercício, Mário Fernandes, propagaram mentiras sobre fraudes nas eleições.

Representação eleitoral apresentada pelo PL, partido de Bolsonaro, após o segundo turno, com dados inconsistentes para questionar o resultado de mais de 200 mil urnas só no segundo turno. A PF aponta que o documento foi apresentado à Justiça Eleitoral com conhecimento de Bolsonaro e do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, também indiciado.

Ações de pressão ao comandante do Exército, Freire Gomes, como a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, que teve a anuência de Bolsonaro, segundo a PF.  

Elaboração do decreto conhecido como “minuta do golpe”, com apoio do núcleo jurídico, que previa a ruptura institucional e a posse de Lula como presidente eleito. O texto estabelecia a decretação do Estado de Defesa no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral e a criação da Comissão de Regularidade Eleitoral para apurar a legalidade do processo eleitoral. A assinatura do documento por Bolsonaro abriria espaço para um golpe.

Investigações da PF mostram que Bolsonaro tinha conhecimento da operação chamada “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o uso de explosivos e veneno para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, além do plano “Copa 2022”, que previa capturar Moraes. Os agentes colheram dados da entrada e saída de visitantes do Palácio do Alvorada, diálogos de integrantes do núcleo próximo de Bolsonaro, datas e locais de reuniões.  

Reunião convocada por Jair Bolsonaro em dezembro de 2022 com os comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta que abriria espaço para um golpe de Estado e que pressionaria os militares a aderirem. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica se posicionaram contrários, enquanto o da Marinha, Almir Garnier, colocou-se à disposição.

Ex-secretário Executivo da Presidência, o general da reserva Mário Fernandes, foi ao Palácio da Alvorada em 9 de novembro de 2022, após elaborar e imprimir o documento no Palácio do Planalto que previa um plano de golpe. A PF afirma que Bolsonaro estava no local.

Reunião de Bolsonaro no dia 9 de dezembro de 2022 com o general Estevam Theóphilo, que aceitou capitanear as tropas, caso o então presidente assinasse o decreto golpista. Neste dia, o então presidente realizou seu primeiro pronunciamento no Palácio da Alvorada. Segundo a PF, o discurso seguiu a narrativa da organização criminosa, para manter a esperança dos manifestantes de que ele e os militares tomariam alguma atitude.