“O odor era muito forte”, diz usuário do IML; há obras no local

“O odor era muito forte”, diz usuário do IML; há obras no local
Lona separa ambiente de necropsias e de reconhecimento de corpos | Foto: Reprodução de vídeo

 

 

IML de BH

Elevador usado para retirar corpos de geladeiras virou armário para equipamentos dos legistas | Foto: Arquivo pessoal

IML de BH

Equipamento de Proteção Individual (EPI) usado por trabalhadores do IML ficam expostos, em local inadequado | Foto: Reprodução de vídeo

 

 

 

 

PUBLICADO EM 06/01/23 - 07H00

Clarisse Souza

“Dá para ver que é um local onde, se tiver higienização, ela é baixa. O odor era muito forte, então respiramos pela boca apenas pelo tempo suficiente para reconhecer o corpo e sair. Não é um local agradável nem para reconhecer o parente, nem para permanecer”. O depoimento é de um homem de 42 anos que acabara de perder o pai em um acidente doméstico e viu de perto, na terça-feira (3), o estado em que se encontra a área de reconhecimento de corpos do Instituto Médico-Legal (IML) de BH.

Sem querer ter o nome revelado, ele contou que nunca havia entrado no local, mas ficou decepcionado com o descuido no atendimento aos familiares. 

O homem relatou, por exemplo, que precisou desviar o olhar para não testemunhar o trabalho de necropsia que era realizado pelos legistas a poucos metros de onde ele reconhecia os restos mortais do pai. Ele confirmou a denúncia feita por funcionários e afirmou que a única barreira que separa o necrotério e a área de reconhecimento de corpos é uma lona pendurada de maneira improvisada. 

"O corpo do meu pai estava logo na entrada do necrotério, em local aberto, perto da obra. O odor era muito forte. Não é um ambiente agradável para reconhecer parente”, comentou. 

Para quem não trabalha no instituto, mas está habituado a frequentar o local diariamente, como é o caso de funcionários de funerárias, a situação já não impressiona mais. “O IML sempre foi horrível”, afirmou o trabalhador de um serviço funerário do bairro Gameleira, na região Oeste de BH. 

Cenário piorou nos últimos dias

O profissional admitiu, porém, que o cenário está pior nos últimos dias, o que tem trazido desconforto a quem precisa entrar no instituto para reconhecer corpos. “Se você chegar lá, vai ver: é uma lona furada. Quem chega lá enxerga tudo (dentro do necrotério)”, relata o profissional.

Para o homem que foi reconhecer o corpo do pai, falta respeito: “Seria interessante que tivessem divisórias para que pudéssemos reconhecer só esse corpo (do familiar) e que não estivéssemos expostos aos outros corpos. Isso pode impactar quem está vendo. Privacidade é importante”. 

O problema, conforme os servidores da unidade ouvidos pela reportagem, é a falta de planejamento da obra. “Eu gosto de trabalhar lá  (no IML de BH). Acho que a gente faz um trabalho brilhante. Mas existe um limite para condições de trabalho. Aquilo lá é desumano e arriscado”, afirmou um servidor que pediu para não ter o nome revelado. 

Sindicato mantém silêncio
Durante quatro dias, a reportagem procurou o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol-MG), que representa os funcionários do IML de BH, e pediu um posicionamento sobre as denúncias. No entanto, até a publicação desta reportagem, a entidade não havia respondido os três e-mails enviados para a assessoria de imprensa.

Atraso em entrega de unidade
BH aguarda a inauguração do Serviço de Verificação de Óbitos, unidade construída no bairro Gameleira, para realização de necropsias em casos de morte natural. Responsável pela obra, o governo do Estado não esclareceu o motivo do atraso na entrega da obra, que era prevista para 2014.