Baixa cobertura de vacina para Covid-19 entre grávidas preocupa especialistas

Baixa cobertura de vacina para Covid-19 entre grávidas preocupa especialistas
Imunização contra a Covid em grávidas ainda está aquém dImunização contra a Covid em grávidas ainda está aquém do desejado Foto: Uarlen Valérioo desejado Foto: Uarlen Valério

 

 

Por HELLEM MALTA

 

Das 22 mil gestantes e puérperas de Belo Horizonte que, segundo estimativas da prefeitura, devem receber a vacina contra a Covid-19, apenas 14.817 (67,35%) receberam a primeira dose e 2.938 (13,35%), a segunda. Em Minas Gerais, segundo dados do vacinômetro da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), das 224.331 grávidas e puér peras previstas para serem imunizadas, apenas 108.438 (48,34%) tomaram a primeira dose e 12.349 (5,50%), a segunda. A baixa cobertura preocupa especialistas e reforça a necessidade de criar campanhas para esclarecer a importância da imunização de gestantes contra o coronavírus.

No Brasil, a taxa de mortalidade pela doença entre mulheres grávidas e puérperas é de 7,2%. O percentual representa mais que o dobro da atual taxa de letalidade do restante da população no país, que é de 2,8%, segundo dados do Boletim do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado em junho.

Pensando nisso, a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) criou a campanha de educação para a vacinação de gestantes “Gestação Segura”. A ideia é mostrar a elas que vacinas só fazem bem a todos, incluindo gestantes e puérperas.

“A vacinação de gestantes e puérperas não está sendo incentivada, não existe uma campanha municipal para essa finalidade, não há mutirões com busca ativa das gestantes cadastradas no SUS em Belo Horizonte”, diz a defensora pública Samantha Vilarinho, coordenadora estadual de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres.

Segundo Samantha, os especialistas recomendam uma campanha de vacinação com a atenção primária, com os profissionais de saúde orientando o planejamento e a vigilância em saúde de grupos prioritários, como pessoas com comorbidades, idosas, acamadas, deficientes e também as gestantes e puérperas cadastradas. “Isso garantia o diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e a prevenção do óbito materno porque se tratam de mortes evitá veis”, afirma.

Para a diretora da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Mariana Seabra, a baixa procura das gestantes pela vacinação contra a Covid-19 assusta e mostra que é preciso ampliar a conscientização desse público sobre a importância da cobertura vacinal. “Esses dados nos assustam porque é uma população que a gente sabe que evolui para casos graves da doença, tem maior risco de ficar internada em UTI, necessitar de ventilação mecânica e está associado com mortalidade maior das gestantes pela doença. Deveria ter um incentivo maior devido às complicações da Covid-19 na gravidez, como complicações fetais, óbito fetal e aumento de chance de trabalho de parto prematuro”, diz.

A PBH informou que o grupo de gestantes e puérperas com e sem comorbidades já foi convocado para a imunização. “Para garantir que este público e os demais compareçam aos locais, as equipes de saúde, durante as visitas domiciliares, conferem a situação vacinal e também reforçam a importân cia da vacinação”, disse.


Início de imunização de grupo foi marcado por desinformação


O início da vacinação de gestantes contra a Covid-19 no Brasil foi marcado por muita confusão e desinformação. Em abril deste ano, o Ministério da Saúde incluiu grávidas e puérperas no Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas em maio, depois da morte de uma mulher, no Rio de Janeiro, que havia recebido uma dose da AstraZeneca, a pasta recomendou a suspensão temporá ria da vacinação de gestantes sem comorbidades. Na ocasião, o Ministério anunciou que acompanharia todas as gestantes que já tinham sido vacinadas a fim de verificar as reações aos imunizantes.

Em julho, após a análise dos dados e debates com especialistas, o Ministério voltou a incluir as gestantes sem comorbidades entre os grupos prioritários para receber a vacina contra a Covid-19. A decisão levou em conta o elevado índice de mortalidade entre este grupo de mulheres, bem superior ao restante da população. Porém, em uma nota téc nica, a pasta recomendou que as gestantes que, por ventura, tivessem recebido a primeira dose da AstraZeneca deveriam tomar a segunda dose da Pfizer ou Coronavac.

Apesar desses desencontros, os especialistas reforçam que a vacina é segura e defendem a imunização das gestantes. “O benefício em relação à vacina é inquestionável. 

“Uma proteção confiável para a Covid-19 é com a imunização completa, duas doses de Coronavac ou Pfizer. A princípio, a AstraZeneca é contraindicada. Então, peço para as grávidas se vacinarem. Tem aumentando cada vez mais as evidências de que a vacina é segura e protege as gestantes”, completa Agnaldo Lopes, ginecologista e presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).