Resultados das eleições municipais projeta incerteza sobre cenário em 2022

Resultados das eleições municipais projeta incerteza sobre cenário em 2022

Por PEDRO AUGUSTO FIGUEIREDO

 

Com o fim das eleições municipais neste domingo (29), partidos e lideranças políticas voltam suas atenções para a eleição presidencial em 2022. Sem um vencedor claro em âmbito nacional, o cenário para daqui a dois anos é incerto.

Em geral, não há uma relação automática entre o resultado das eleições municipais e da eleição presidencial dois anos depois. “Em termos históricos, quantos do que vieram a ser aliados do Bolsonaro em 2018 ganharam em 2016?”, exemplifica o cientista político e professor da UFJF, Paulo Roberto Figueira Leal. 

“O que não quer dizer que não haja indicativos em eleições municipais. Em 2016, por exemplo, vitórias como a do Kalil e do Dória sinalizavam que havia um certo cansaço com a política, um certo incômodo com os partidos tradicionais. Isso era algo que sinalizava para uma radicalização do processo lá em 2018, como de fato aconteceu”, acrescenta.

Ainda assim, é possível identificar de que forma as peças se mexeram no tabuleiro. Para Leal, o principal perdedor dessas eleições foi Jair Bolsonaro. Devido em parte ao nível de rejeição do presidente, nenhum dos candidatos em capitais que contavam com o apoio dele foram eleitos, apesar de terem chegado no segundo turno no Rio de Janeiro e em Belém.

Por outro lado, o cientista político considera que Guilherme Boulos “saiu muito maior do que entrou” nessas eleições, sendo o presidenciável que mais colheu frutos políticos na disputa municipal, mesmo tendo perdido no segundo turno para Bruno Covas (PSDB). 

O cientista político e professor do Ibmec, Adriano Cerqueira, concorda que Boulos teve um desempenho acima do esperado. “Foi um desempenho inesperado, positivo. Ele tinha um perfil de extrema-esquerda até essas eleições e fez um esforço para parecer mais moderado. A questão que eu coloco é se ele vai continuar nessa toada até 2022”, questiona.

Na esquerda, Paulo Roberto identifica uma fragmentação que, de um lado, foi puxada pelo simbolismo do PT não ter conseguido eleger nenhum prefeito em capitais e, do outro, resultados satisfatórios do PDT, de Ciro Gomes, do PSB e também do PSOL.

“Você tem vitórias do PDT e do PSB em capitais do Nordeste, e vitórias pontuais, como a do PSOL em Belém e o bom desempenho em São Paulo”, diz.

A diluição dos votos na esquerda e do desempenho do PT, que elegeu 183 prefeitos em todo o Brasil, o menor número em 16 anos, são argumentos em que se baseia Adriano Cerqueira, do Ibmec, para discordar da avaliação que Bolsonaro saia destas eleições na condição de derrotado.

Na visão dele, o resultado foi favorável ao atual presidente, que não vê no horizonte nenhum adversário com amplo apoio político para liderar uma frente ampla, por exemplo. Ao mesmo tempo, o crescimento significativo de siglas como o PP e o PSD, que agora detêm o segundo e o terceiro maior número de prefeitos em todo o país, oferece uma alternativa tática ao presidente.

“Eu acho que o Bolsonaro saiu melhor dessa eleição. Ele tem menos partidos grandes em condições de enfrentá-lo do que no passado. Muitos partidos médios conquistaram um número maior de prefeituras e ele tem, caso queira, mais peças para articular uma frente de apoio até mesmo no Congresso visando as eleições estaduais e presidencial”, avalia Cerqueira. “Seria ruim pra ele se PSDB, PT e MDB tivessem mais prefeituras do que em 2016. Mas isso não aconteceu”.

Doria

As avaliações também destoam em relação ao cenário de uma candidatura a presidente do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Para o cientista político David Fleischer, o fato de Bruno Covas (PSD) ter vencido a eleição na capital paulista, fortalece a candidatura do governador em 2022.

“Dória aparentemente vem em coligação com o DEM e com o MDB. É por isso que Bolsonaro tem atritos com Doria”, explica. Apesar de ter perdido prefeituras, o MDB ainda é o partido com mais prefeitos no Brasil (784). Já o DEM teve um bom desempenho nessas eleições, crescendo 74% na comparação com 2016. Atualmente, é o quinto maior partido brasileiro em termos de prefeito, com 464 gestores municipais.

Já para Paulo Roberto, da UFJF, embora a vitória de Covas tenha sido importante para manter a hegemonia tucana na maior cidade do país, Doria teve que ser “escondido” durante a campanha.

“Mesmo que seja mais uma vitória dos tucanos em São Paulos, ela não é propriamente uma vitória do campo do Doria na medida que, apesar de ser o padrinho da candidatura, ele tem índices de avaliação tão ruins neste momento que não pôde ser o cacique a celebrar como sua essa vitória”, diz.

“A eleição do Bruno Covas não foi tão fácil assim como poderia ter sido. É indicativo de que o Dória deve ter problemas de popularidade inclusive na capital paulista”, analisa Adriano Cerqueira, do Ibmec.