Hospital de Divinópolis troca corpos, e mulher é enterrada em outra cidade

Mulheres foram vítimas de Covid-19 e hospital não fez identificação externa dos corpos que acabaram sendo trocados

Hospital de Divinópolis troca corpos, e mulher é enterrada em outra cidade
O corpo da assessora Júnia Máximo, de 55 anos, foi sepultado no lugar de outra pessoa. Foto: Arquivo Pessoal

 

Por CAROLINA CAETANO E NATÁLIA OLIVEIRA | SIGA PELO TWITTER @OTEMPO

23/06/21 - 09h24

Uma família de Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas Gerais, passou por momentos de aflição, nessa terça-feira (22), depois que o corpo da assessora Júnia Máximo, de 55 anos, foi sepultado no lugar de outra pessoa. Parentes denunciam que a liberação errada partiu do Complexo de Saúde São João de Deus. A unidade de saúde confirmou que errou. 

"Minha mãe foi internada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Padre Roberto no dia 31 de maio com problemas de oclusão arterial nas pernas. Como estava com muitos casos de Covid, ela foi  transferida para uma uma área estendida da UPA no Hospital Bento Menni, onde ela ficou até o dia 13", contou uma das filhas de Júnia, a auxiliar administrativa Suelem Eduarda Máxima, de 35 anos.

Segundo ela, a mãe começou a passar mal e testou positivo para o Coronavírus. A família conseguiu a transferência da assessora para o Complexo de Saúde São João de Deus, mas o quadro de saúde dela piorou. No último sábado (19), ela não conversava mais e estava com a saturação baixa.

"Na segunda, o médico me ligou falando que minha mãe tinha dado falência múltipla dos órgãos, que estava tentando de tudo, mas não poderia garantir mais nada. Por volta das 22h, o hospital entrou em contato falando que precisava conversar e pedindo para levar todos os documentos. O médico falou que ela não tinha resistido. Devido ela ainda estar com a Covid, não poderia ter velório, apenas o sepultamento com o mínimo de familiares", detalhou.

A troca

Segundo Suelem, a documentação foi arrumada e um tio foi até um sistema funerário. O enterro estava marcado para às 10h no Cemitério Parque da Colina, em Divinópolis, mas o corpo não chegou. Após o horário agendado, segundo a família, um funcionário da funerária entrou em contato falando que não estava achando o corpo de Júnia. 

"Foi quando começou o pesadelo porque a gente não sabia o que estava acontecendo. O hospital tentou nos enrolar e fizemos um boletim de ocorrência. Com muito custo, nos informaram que a minha mãe tinha sido enterrada em Pitangui, mas, chegando lá, fomos informados que ela tinha sido enterrada em Santana da Prata, que é um povoado de Conceição do Pará. Tiveram que desenterrar o corpo da minha mãe, fizemos a identificação e conseguimos enterrá-la na noite de hoje (terça)", explicou a auxiliar administrativo.

O caso também gerou transtornos para a outra família, que não sabia que tinha enterrado o corpo de outra pessoa. A mulher que deveria ter sido sepultada em Santana do Prata estava internada no mesmo hospital, segundo a família de Júnia.

"O hospital errou no seguinte: eles identificaram minha mãe no pescoço e no tornozelo e teriam que ter feito a identificação fora do saco. Como não podia abrir o saco, eles teriam que ter identificado por fora. Até as 16h, horário que saímos do hospital, o corpo da outra mulher ainda estava lá", afirmou. 

Ação na Justiça

Após todo o transtorno, a família de Júnia pretende entrar na Justiça contra o hospital. "Já basta a angústia, não pode ver, não pode despedir da pessoa. Vamos entrar com uma ação contra o hospital. Não queremos que nenhuma outra família passe por isso. Não é pelo dinheiro, a gente não vai esquecer, mas é por Justiça", finalizou a filha. Júnia deixou quatro filhas e dois netos.

Hospital assume erro

O Complexo de Saúde São João de Deus confirmou que houve erro na identificação dos corpos. Em um vídeo divulgado pela unidade, a diretora presidente do Complexo, Elis Regina Guimarães, relatou que o problema foi na hora da identificação. 

"Tivemos dois óbitos Covid de duas mulheres e essas duas mulheres foram devidamente identificadas pela equipe de enfermagem, onde a rotina é colocar no peito E no tornozelo o nome da pessoa e após o corpo ser devidamente acondicionado conforme as normas sanitárias necessárias para a Covid, uma terceira identificação é colocada por fora", explicou. 

Segundo ela, foi durante esse trabalho que houve o erro.  "Lamentavelmente durante um erro de processo essa identificação dessas duas mulheres não ocorreu neste terceiro momento, que seria a identificação desse invólucro por fora. No momento em que a funerária na madrugada foi buscar o corpo dessa outra cidade, bem como nossa equipe responsável, pela liberação do corpo, não se atentaram para a questão da (falta) terceira identificação. Lamentavelmente o corpo que foi levado para outra cidade foi de uma divinopolitana", complementou. 

Ainda segundo a diretora, no início da manhã desta terça-feira (22) uma outra funerária contratada pelo hospital foi buscar o corpo de Júnia e quatro membros da família da mulher, devidamente equipados, foram fazer o reconhecimento do corpo para que fosse feito o velório e enterro. “Infelizmente não tem o que justificar nesse erro. É um erro grave, mas todas as providências estão sendo tomadas para que não aconteça novamente”, justificou.

Elis pediu desculpas às famílias pelo o ocorrido e informou que os funcionários que cometeram os erros serão demitidos. Ela disse ainda que o hospital vai adotar uma terceira etapa na identificação para evitar que o problema volte a ocorrer.