Galo Feminino: Gabizinha lembra perda do irmão e proibição de jogar bola

Galo Feminino: Gabizinha lembra perda do irmão e proibição de jogar bola

Isabelly Morais

 

Com apenas 21 anos, a atacante Gabizinha tem uma trajetória de muita luta para além das quatro linhas. A jogadora está no Atlético desde o começo deste ano e há quem pense que sua habilidade se restringe ao campo, mas ela mostra que precisou driblar também muitas pedras em sua caminhada.

Natural de Alvorada, no Rio Grande do Sul, Gabizinha deu os primeiros passos no futebol como muitas outras meninas: entre os meninos. Um campo na rua de casa e uma associação formaram o primeiro cenário para o pontapé da jogadora na modalidade. As dificuldades, porém, surgiram desde muito cedo.

"Soube que tinha uma escolinha de meninos, a Associação Amar e Cuidar. Foi lá que comecei a disputar campeonatos com os meninos. Depois de um tempo, me proibiram de jogar. Logo em seguida, perdi meu irmão, e tivemos que sair da cidade onde a gente morava. Para mim, foi bastante triste, pela morte e por ter saído da cidade onde tinha meus amigos e a escola", comentou à TV Galo (entrevista completa em vídeo no fim da matéria).

Dificuldades com a avó e proibições

O novo cenário para Gabizinha exigiu uma certa adaptação, o que não aconteceu. Então garota, pediu para morar com a avó, próximo à antiga casa. O que a jogadora do Atlético não esperava, porém, é que o sonho de jogar futebol ficaria ainda mais distante ao se mudar para a casa da avó.

"Pensei que seria maravilhoso, mas passei muitas coisas com ela. Ela começou a me proibir de jogar. Ela mandava a gente pedir nas casas, num bairro nobre de Porto Alegre. A gente ia pedir, eu e uns primos. A gente chegou a vender bala no sinal. Depois, íamos pra casa e no outro dia a gente vendia as roupas que a gente pedia. Esse momento foi bem difícil pra mim", comentou.

Para jogar bola, não era fácil. Gabizinha saía escondido de casa para encontrar campos onde pudesse dar sequência ao seu sonho. Foi quando começou a ver um horizonte na modalidade.

"Um dia, a coordenadora, a Nica, me convidou para morar com ela porque me via chegando triste nos treinos. Ela me fez crescer como pessoa e me ajudou demais. Depois, fui jogar no clube que era da Duda [Luizelli, atual coordenadora das Seleções Femininas da CBF], o primeiro onde joguei", recordou. 

Família pouco unida

Duda jogou em clubes como Criciúma, Vitória e Grêmio antes de acertar com o Atlético. Muitas atletas relatam o apoio da família e a importância de ter uma base em casa para buscar seus sonhos, mas Gabizinha teve um cenário diferente.

"Sempre tive uma família nada unida. Sempre considerei as pessoas da rua, amigos, sempre foram mais minha família do que minha própria família. Isso não em fez ser uma má pessoa, mas me fez crescer. Hoje, eu agradeço à minha namorada, que está comigo sempre, para tudo", apontou.

Presente e perspectivas

A jogadora brincalhona, de sorriso solto e persistente gosta de churrasco e chimarrão como todo bom gaúcho. No Atlético desde o começo do ano, ainda não teve a chance de jogar muito pela equipe em razão da paralisação dos jogos. O Brasileiro Feminino A2 será retomado no mês de outubro e a expectativa é pelo acesso à elite. 

"Foi uma grande oportunidade [acertar com o Galo Feminino]. Quero defender esse clube e mais do que tudo subir, ser campeã da [Série] A2. Voltei [aos treinos, na pandemia] com outra cabeça, mais centrada e sabendo o que eu quero para mim e para o clube", pontuou a jogadora. 

Quanto às metas pessoas, Gabizinha tem suas projeções. "Hoje, meu sonho é poder um dia usar a camisa da seleção brasileira. Sonho em viver do futebol. Melhorou muito, mas hoje digo que ainda não vivo do futebol. Quero ter minha casa própria, meu carro", completou.

 — A gente nunca deve desistir dos nossos sonhos, mas sempre acreditar. Temos que ser persistentes, como eu fui e sou.