Estudo da UFMG identifica 68 bebês que nasceram com anticorpos para a Covid

Pesquisa aponta que mães que foram assintomáticas para a doença também podem passar os anticorpos para os filhos Por LARA ALVES E LETÍCIA FONTES 26/05/21 - 14h01

Estudo da UFMG identifica 68 bebês que nasceram com anticorpos para a Covid
A presença de anticorpos para a Covid-19 é detectada com a mesma amostra de sangue coletada para o teste do pezinho Foto: Nupad/Faculdade de Medicina da UFMG/Divulgação

Grávidas curadas de infecção pelo coronavírus, sintomáticas ou não, podem transmitir anticorpos para seus bebês. A afirmação é fruto de uma análise preliminar de uma investigação conduzida da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que, até quarta-feira (26), identificou 68 recém-nascidos que receberam anticorpos IgG de suas mães. Estudo da Faculdade de Medicina é feito com crianças nascidas nos municípios de Contagem, Itabirito e Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, Uberlândia, no Triângulo Mineiro e Ipatinga, no Vale do Aço – escolhidos a partir de critérios como o número de nascimentos por mês. Foram testados 506 pares de mães e bebês que aceitaram participar da análise, e o objetivo é que o número atinja 4.000.

A investigação é feita a partir da detecção da presença de anticorpos em uma gota de sangue do bebê – coletada no instante em que é feito o teste do pezinho – e da mãe; nas puérperas é feita uma punção digital, como para medir glicemia. Mulheres que recém deram à luz nos cinco municípios participantes do estudo são convidadas no momento em que procuram unidades básicas de saúde para os primeiros exames de seus filhos. De acordo com a Faculdade de Medicina, como a coleta de sangue é feita nos primeiros sete dias após o parto, a imunidade detectada necessariamente foi adquirida durante a gestação – segundo nota publicada no site da instituição.

Para além de constatar a transmissão de anticorpos, o intuito, segundo a professora Cláudia Lindgren, do Departamento de Pediatria da Medicina, é observar se a infecção pelo coronavírus durante a gravidez apresenta consequências para o desenvolvimento das crianças, e também será avaliada a duração da imunidade adquirida pelo feto.

“A confirmação da passagem de anticorpos da mãe para o bebê durante a gravidez pode ajudar a planejar o momento ideal para vacinação dos bebês contra a Covid. Em outras infecções, como no sarampo por exemplo, já se sabe que os anticorpos maternos reduzem a eficácia da vacina contra o sarampo, e por isso ela é feita mais tardiamente”, explicou.

Além de descobrir os cuidados necessários com esses recém-nascidos, segundo a pesquisa, 40% das mães que tiveram a doença, mas não apresentaram sintomas, também passaram os anticorpos para os bebês.

“Outros estudos já mostraram a presença de anticorpos no bebê, mas a maioria deles investigou a transferência de anticorpos após as manifestações da covid na mãe. Nesta pesquisa, estamos testando todas as mães e bebês, independente delas terem apresentado qualquer sintoma da doença durante a gravidez, porque sabemos que cerca de 80% das infecções são assintomáticas”, explica a professora, que cita o zika, rubéola e HIV como vírus que permanecem “ocultos” no organismo por bastante tempo. “Temos a hipótese que, à semelhança de outras infecções virais durante a gravidez, o Sars-Cov-2 pode trazer repercussão futura”, pontua.

Os casos positivos analisados na pesquisa serão acompanhados por dois anos e observará se a infecção durante a gestação trouxe consequências para o desenvolvimento das crianças. Um grupo de controle, com mães e bebês com resultados negativos, também será acompanhado. 

A professora Cláudia Lindgren explica ainda que doenças adquiridas na gestação podem não ter sintomas imediatos e agudos. “A experiência da infecção pelo SARS-COV-2 nos adultos, nos mostra uma grande afinidade do vírus pelo sistema nervoso central e levanta a preocupação de que ele também possa afetar o feto. Mesmo que o bebê tenha nascido bem, sem sintomas da doença, o comprometimento do desenvolvimento pode surgir mais tarde, por exemplo, quando a criança começar a falar ou andar. Não temos estudos sobre isto ainda”, afirma. 

(Com Faculdade de Medicina da UFMG)