Volta da torcida: Ar livre, máscaras e testes não eliminam riscos no Mineirão

Volta da torcida: Ar livre, máscaras e testes não eliminam riscos no Mineirão
Torcedores em frente à Arena MRV no jogo entre Atlético e Boca; infectologistas alertam para aglomerações, que podem disseminar o vírus — Foto: Cris Mattos - O TEMPO

 

 

 

Por O TEMPO

Mesmo com a obrigatoriedade de testes de Covid para todos os torcedores e com o ambiente aberto, especialistas concordam que é um risco comparecer a um evento com 16 mil pessoas, público previsto para o jogo entre Atlético e River Plate.

 

Além de medidas coletivas, como a restrição de público, eles recomendam uma série de medidas individuais que pode minimizar o perigo para quem for à partida. 

“As pessoas vão cantar, gritar e, quanto mais alto se fala, mais partículas que podem estar contaminadas emitimos. O momento em que houver 16 mil pessoas cantando é agravante. Em jogos no Japão, as torcidas não podiam cantar, mas é absurdo pensar nisso para a cultura do Brasil”, explica o pós-doutorando na Faculdade de Medicina de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR Vitor Mori.

Segundo o infectologista Carlos Starling, membro do comitê de enfrentamento à pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a lotação do estádio, que permite distanciamento de até dez metros entre torcedores, é segura.

“É o comportamento das pessoas que vai fazer a diferença. Esse é um jogo-teste. Se as coisas não funcionarem, não tem como ter mais”, diz Starling.

A PBH afirma que é responsabilidade dos organizadores da partida o controle de entrada dos torcedores, inclusive a checagem de uso correto da máscara.

A Minas Arena, que administra o estádio, informa que conta com orientação do laboratório Hermes Pardini e que profissionais multidisciplinares vão orientar o público.

“Em caso de resistência às orientações e cuidados obrigatórios, acionaremos o poder público com a intervenção da Polícia Militar”, detalhou, por meio de nota. 

Além disso, dentro do estádio, também haverá um ponto específico onde serão distribuídas máscaras, além de frascos com álcool em gel.

Preocupação

A infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Raquel Stucchi destaca a importância da qualidade das máscaras.

“Ter aglomerações, mesmo em local aberto, é de grande preocupação. Não é uma boa escolha ir ao estádio, mas quem for deve preferir máscara de alta filtragem, como cirúrgica ou N95, PFF2”, orienta Raquel. 

O pesquisador Vitor Mori ressalta que, independentemente da máscara, ela deve estar bem ajustada ao rosto. Ele também pontua que os momentos pré e pós-jogo são ainda mais preocupantes.

“Os jogos envolvem não só a partida em si, mas a interação antes e depois. As pessoas vão a bares em locais fechados antes e pegam ônibus lotados”, diz.

O ideal, reforça ele, é evitar a área interna dos bares e preferir transporte particular – com os vidros abertos. Banheiros e outros espaços fechados dos estádios também devem ser evitados, se possível. 

Torcedores, equipe e imprensa deverão apresentar, na entrada do estádio, resultado negativo de teste PCR realizado até 72 horas antes do jogo. O resultado não garante, porém, que os torcedores não estejam contaminados até o momento da partida, afirma a infectologista do Hermes Pardini Melissa Valentini.

“Se a pessoa apresentou sintomas após a realização do teste negativo, é importante que ela discuta com o médico se deveria testar de novo e, provavelmente, não comparecer ao jogo”, diz.

PBH diz que os impactos da torcida presencial sobre os índices da pandemia, caso aconteçam, devem ser sentidos de dez a 14 dias após o jogo.

“Com relação à torcida, o protocolo exige que a organização do evento mantenha e compartilhe com a prefeitura, se necessário, a lista dos torcedores por jogo. Esses dados podem ser utilizados para efetuar rastreamento epidemiológico caso haja algum foco de contaminação”, conclui. 

Erros em eventos podem levar a “superespalhamento” do vírus

O jogo de hoje é tratado pela PBH e pela Minas Arena como um teste.

Em outras partes do mundo, erros em eventos de grande escala já levaram a alta de casos de Covid-19, ao mesmo tempo em que outros eventos, quando bem-conduzidos, não resultaram em problemas. 

“É muito difícil prever o resultado de um evento, porque são vários fatores envolvidos”, pondera o pesquisador Vitor Mori. No caso dos jogos em BH, o problema é se houver mais jogos e várias chances de contágios ocorrerem. Imagine cinco jogos com 8.000, 13 mil pessoas, e de torcidas diferentes em cada um, por exemplo”, acrescenta. 

Em julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuiu a alta de casos no Reino Unido à realização da Eurocopa com torcidas – imagens da final no estádio de Wembley, em Londres, mostram uma multidão de pessoas sem máscara.

O Imperial College London também averiguou acentuação de casos entre homens, maioria entre as torcidas no país. 

Por outro lado, em abril deste ano um evento-teste em Barcelona, com 5.000 pessoas, terminou sem contágios originados no local, mesmo com pessoas cantando ombro a ombro. Diferentemente dos jogos da Eurocopa, a multidão utilizava máscaras do tipo PFF2.