Entenda efeitos políticos do leilão do 5G para o governo federal

Entenda efeitos políticos do leilão do 5G para o governo federal
Tecnologia 5G já existe no Brasil, porém em modelo menos avançado, segundo Carlos Baigorri, da Anatel Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

 

 

 

 

Por LUANA MELODY BRASIL | O TEMPO BRASÍLIA

 

Entre os resultados alcançados com o leilão da quinta geração de internet móvel está a melhoria da imagem política do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

De um lado, foi arrecadado um valor abaixo das expectativas governamentais ao final da licitação, realizada na sede da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) nas últimas quinta (4) e sexta-feira (5). Esperando R$ 50 bilhões, o leilão alcançou R$ 46,7 bilhões.

Mas por outro lado, as obrigações previstas no edital para as empresas vencedoras deverão alavancar a campanha política de Bolsonaro às vésperas das eleições federais na qual concorrerá à reeleição. 

Isso porque, segundo o cronograma previsto no edital, o 5G modelo standalone – geralmente comparado a uma “Ferrari” pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, em analogia à velocidade do tráfego de dados – chegará a todas as capitais brasileiras até 31 de julho de 2022, ou 15 dias antes do início da largada oficial das campanhas eleitorais. 

Porém, até lá o governo federal ainda precisa superar a barreira da legislação sobre antenas de algumas cidades, que atrapalham a instalação dos novos modelos adaptados ao 5G.

Segundo levantamento realizado pela Conexis Brasil Digital, divulgado na quarta-feira (3), há 20 capitais brasileiras cujas legislações não permitem a instalação de infraestrutura para a tecnologia. 

Equipe favorecida politicamente

Para além da campanha de Bolsonaro, ao menos três ministros também se beneficiam politicamente do leilão do 5G. Carro chefe da gestão de Fábio Faria, o 5G configura nos discursos do ministro das Comunicações como uma vitória. 

A tecnologia representa a ampliação da cobertura de internet banda larga para pequenas comunidades, povoados e escolas que estão desconectados do mundo digital – essa é uma das obrigações previstas no edital e contratada pelas empresas vencedoras do leilão.

Além de Faria, outro ministro favorecido pela licitação é o da Economia, Paulo Guedes. Na próxima semana, será definido quanto do ágio de R$ 5 bilhões irá para o Tesouro Nacional. Embora não seja suficiente para bancar os programas sociais desejados pelo governo, como o Auxílio Brasil, esse valor pode ser mais um fôlego para a imagem política e econômica de Guedes. 

O recurso se somaria, por exemplo, aos R$ 91 bilhões liberados para o Orçamento de 2022 via Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. Isso caso ela seja aprovada em segundo turno no plenário da Câmara e em dois turnos no Senado, se os parlamentares atenderem aos apelos do ministro e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). 

Há ainda um terceiro ministro de Bolsonaro que se beneficia dos resultados do leilão do 5G. Para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, a tecnologia significa mais investimentos no setor representado pela pasta. 

Além disso, outra obrigação contratada pelas empresas vencedoras é oferecer cobertura de internet 4G nas rodovias federais, cujas reformas e duplicações são centrais na gestão de Freitas.