Desconfiar e acionar a polícia: especialistas orientam sobre ameaças em escolas

Especialistas apontam que, na maior parte dos casos, as mensagens são publicadas para despertar o sentimento de medo

Desconfiar e acionar a polícia: especialistas orientam sobre ameaças em escolas
Mensagens são compartilhadas na web para criar sensação de insegurança — Foto: IMAGEM ILUSTRATIVA - Tânia Rêgo / Agência Brasil

 

Por Rayllan Oliveira Publicado em 11 de abril de 2023 | 14h35 - Atualizado em 11 de abril de 2023 | 17h39

A série de ameaças de ataques em escolas e os recentes episódios ocorridos em institutos de educação de Santa Catarina, São Paulo e Goiás transformaram a rotina da comunidade escolar. Os sentimentos de medo e de insegurança fizeram com que muitos alunos deixassem de frequentar as instituições de ensino. Diante dessa situação, a reportagem de O TEMPO conversou com especialistas que apontaram algumas dicas sobre como agir diante de mensagens com conteúdos de ameaça.

Para a professora do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geane Alzamora, a população precisa desconfiar dos conteúdos compartilhados nos aplicativos de conversa e também nas redes sociais. “Uma dica interessante é pesquisar sobre aquele assunto no Google e avaliar o que foi dito sobre ele", destaca.

Alzamora ainda sugere que os usuários devem ler todo o texto, a fim de verificar o conteúdo não somente pelo título. Caso se trate de uma reportagem, é importante clicar no link indicado para ter acesso a todo o texto. Além disso, a professora orienta que muitas publicações desse tipo possuem frases que pedem pelo compartilhamento do material, a fim de se tornarem virais. 

A especialista alerta ainda que é importante considerar aquelas publicações com as seguintes mensagens: ‘isso não vai aparecer na televisão’, ‘compartilha com suas amigas’, ‘isso você só vai ver aqui’. “Se é algo relevante, e todos estão procurando, por qual motivo só aquela pessoa ou aquela rede social vai ter a informação?”, questiona a docente.

A orientação é verificar também quem são os responsáveis pela publicação. É importante checar se aquele conteúdo é abordado por veículos jornalísticos bem como por plataformas públicas, sejam elas de instituições do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário, como: Ministério Público, Governo Federal, Ministério da Saúde, Agência Senado, entre outros. É aconselhável avaliar se o conteúdo disponibilizado está de forma fragmentada, como parte de um material maior.

Quando chamar a polícia

Para o tenente-coronel Flávio Santiago, da Polícia Militar de Minas Gerais, caso essas publicações ofereçam insegurança ou provoquem a sensação de medo, a polícia deve ser acionada. O representante destaca que a PMMG possui um serviço de inteligência que busca identificar a origem, a autoria e motivação da produção e publicação desses conteúdos.

"Se receber uma mensagem com ameaça de ataque em escola, por exemplo, o primeiro passo é avisar o educandário para que isso possa chegar até a polícia ou a secretaria de educação", orienta. As denúncias podem ser feitas pelo telefone ou por algum canal de comunicação da escola onde o estudante está matriculado, além do 190 da Polícia Militar de Minas Gerais. 

Confira algumas dicas

  • Verifique se as fontes são confiáveis, identificando quem são os produtores de conteúdo;
  • Observe se a informação está completa ou se ela não é um fragmento de uma peça maior ou um vídeo ou áudio cortado;
  • Faça uma busca nas redes sociais para checar se tem mais alguém falando sobre o assunto;
  • Pesquise o assunto ou dados relacionados em fontes confiáveis, meios de comunicação conhecidos ou veículos oficiais;
  • Recorra aos sites jornalísticos e agências de checagem.

Fonte: Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba

Investigação "Lista de Massacre" e sensação de medo

Após viralizar em uma rede social no último final de semana, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou um procedimento para investigar a origem e a veracidade do vídeo da chamada "Lista do Massacre", que continha ameaças de ataques em escolas de pelo menos 35 cidades mineiras. "Até o momento, de acordo com o MPMG, não há dados concretos sobre a referida postagem de conteúdo genérico", informou o MPMG por meio de nota nesta segunda-feira (10). A investigação é conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate aos Crimes Cibernéticos (Gaeciber).

“São pessoas que se aproveitam dessas histórias para promover caos e medo dentro das suas inconformidades pessoais, que são problemáticas. A gente cruza uma série de situações, de informações e quesitos para chegar a essa conclusão", informa o tenente-coronel Flávio Santiago.

Conforme o tenente-coronel, o serviço de inteligência da PMMG foi mobilizado para investigar o caso e, após análise do conteúdo, as informações foram repassadas para a Polícia Civil (PCMG), que deverá investigar o caso. O governo de Minas informou que as mensagens de ameaças “estão sendo monitoradas e investigadas pelos órgãos competentes”, o que inclui a PCMG.

Embora não possa detalhar o procedimento feito pelo serviço de inteligência da PMMG, o tenente-coronel sustenta a tese de que o vídeo tenha sido publicado como forma de alarde pela quantidade de cidades onde os ataques deveriam acontecer. "Como se coordena uma ação dessa? Até o crime organizado tem dificuldade de uma mobilização de 35 cidades. Para nós que somos especialistas em segurança, o vídeo tem algumas variáveis que mostram essa intenção de provocar medo", justificou.

O vídeo com a divulgação da chamada “Lista do Massacre” começou a circular nas redes sociais no último final de semana. A publicação aponta que escolas de mais de 35 cidades mineiras seriam alvos de uma série de ataques previstos para o período entre os dias 10 e 20 de abril. Até 12h desta segunda-feira (10), a postagem já tinha atingido 87 mil curtidas, 28,4 mil comentários e mais de 11 mil compartilhamentos em uma rede social.

O conteúdo causou pânico entre alunos, professores e responsáveis. Esse sentimento mobilizou o Ministério Público de Minas Gerais, que instaurou procedimento para apurar o caso, e a empresa da rede social onde foi publicado, que retirou o conteúdo da web.

“É comum que esses conteúdos provoquem medo e desconfiança, principalmente por terem sido publicados depois dos atentados. Essa é uma característica da sociedade da desinformação que faz isso com o objetivo de ter alguma vantagem, seja ela política, de ganhar dinheiro com isso e até mesmo de trollagem. É algo próprio da interação social”, avalia a professora do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, Geane Alzamora.

Desinformação na internet

Conforme a docente, com o avanço do acesso à tecnologia e o uso cada vez mais constante das redes sociais, as autoridades públicas precisam desenvolver políticas e programas de “letramento transmidiático”, que consiste em orientar a população e aos usuários sobre a desinformação na web e sobre os riscos do compartilhamento de conteúdos.

“A pessoa que tem mais idade ou aquele adolescente que começa a usar a rede social, por exemplo, precisam entender que repassar um conteúdo com desinformação pode ser prejudicial para a sociedade”, alerta.