Coração de D Pedro I está em Brasília para festa dos 200 anos da Independência

Relíquia receberá o mesmo tratamento dado a chefes de Estado. Ele subirá a rampa do Planalto com honrarias militares, entre elas, a participação dos Dragões da Independência e a apresentação de hinos

Coração de D Pedro I está em Brasília para festa dos 200 anos da Independência
Foto: Evaristo Sá/AFP

 

Por Renato AlvesPublicado em 22 de agosto de 2022 | 10h58 - Atualizado em 22 de agosto de 2022 | 12h03

 

 

Antônio Leitão da Silva (direita), comandante da Polícia Municipal do Porto, carrega uma urna com o coração de Dom Pedro I, acompanhado por Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, na chegada à Base Aérea de Brasília

Coração de dom Pedro 1º, guardado em recipiente de vidro na igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, em Portugal

 

Antônio Leitão da Silva (direita), comandante da Polícia Municipal do Porto, carrega uma urna com o coração de Dom Pedro I, acompanhado por Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, na chegada à Base Aérea de Brasília — Foto: Evaristo Sá/AFP

 

Antônio Leitão da Silva (direita), comandante da Polícia Municipal do Porto, carrega uma urna com o coração de Dom Pedro I, acompanhado por Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, na chegada à Base Aérea de Brasília

Antônio Leitão da Silva (direita), comandante da Polícia Municipal do Porto, carrega uma urna com o coração de Dom Pedro I, acompanhado por Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, na chegada à Base Aérea de Brasília — Foto: Evaristo Sá/AFP

 

O coração de d. Pedro 1º chegou a Brasília na manhã desta segunda-feira (22) para uma série de eventos em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil. O órgão veio da cidade do Porto, em Portugal.

É a primeira vez que o coração do imperador deixa Portugal em 187 anos. O transporte foi feito por uma aeronave VC-99 da Força Aérea Brasileira (FAB). O órgão está imerso em um vaso de vidro cheio de formol, que o tem conservado desde 1834. Ele voltará a Portugal em 8 de setembro.

O presidente da Câmara Municipal de Porto, Rui Moreira, acompanhou o voo e participará das celebrações.

Chamado em Portugal de Pedro IV, Dom Pedro I nasceu em Queluz, na região metropolitana de Lisboa, em 1798. Pisou no Brasil pela primeira vez em 1808, com o restante da Corte Portuguesa, quando Portugal foi invadido pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte. Em 1822, foi o responsável por proclamar a Independência do Brasil, sendo imperador até 1831.

Após uma breve cerimônia na Base Aérea de Brasília, na manhã desta terça, o coração foi levado ao Palácio Itamaraty. Na terça-feira (23), haverá cerimônias no Ministério de Relações Exteriores e no Palácio do Planalto para comemorar a chegada da relíquia.

O coração receberá o mesmo tratamento dado a chefes de Estado estrangeiros em visita oficial ao Brasil. Ele subirá a rampa do Planalto com honrarias militares, entre elas, a participação dos Dragões da Independência e a apresentação de hinos.

 “Família imperial brasileira” foi convidada para cerimônia no Itamaraty

Após a cerimônia no Planalto, o coração do imperador volta para o Itamaraty, onde ficará exposto inicialmente a autoridades e convidados do corpo diplomático, na Sala Santiago Dantas, climatizada para servir de exposição e cripta. Entre os convidados estão integrantes da “família imperial brasileira”.

Apesar da nomenclatura, “família imperial brasileira” deixou de existir oficialmente em 1889, quando o Brasil se tornou uma república, proclamada com a deposição de Pedro II. no entanto, monarquistas são simpatizantes ao governo de Jair Bolsonaro. Por isso é comum ver bandeiras do Brasil Império nos atos de apoio ao presidente.

Para quarta (24), está programada visita da imprensa ao Itamaraty. Nos dias seguintes, será aberto a visitas agendadas de estudantes das escolas do Distrito Federal. Nos fins de semana, a visitação será aberta ao público, em geral turistas que costumam visitar a sede do Ministério das Relações Exteriores.

Em 7 de setembro, data da independência do Brasil, o coração estará em um evento, ao lado de outros chefes de Estado convidados. O retorno a Portugal está previsto para 8 de setembro, chegando no dia 9 à cidade do Porto.

Vinda de coração envolveu longas negociações

Para trazer o coração de D. Pedro I ao Brasil, o governo Bolsonaro acionou o Itamaraty, que se envolveu em longa negociação. 

As missões brasileiras a Portugal tiveram de negociar com a Câmara Municipal da cidade do Porto, a quem o coração do imperador foi doado em agradecimento ao apoio político dado pela província nas questões envolvendo a sucessão ao trono português. Também foram necessárias negociações com a Igreja Nossa Senhora da Lapa, a quem cabe a guarda do coração.

Após a aprovação da assembleia municipal, o governo brasileiro teve que se dedicar aos muitos detalhes técnicos para transporte e guarda, para garantir a integridade do órgão.

Entre os pedidos feitos pelos portugueses está o de que o coração não seja transportado como carga, mas na cabine de passageiros. Para garantir que a relíquia continue em boas condições, diversos procedimentos serão adotados, de forma a garantir condições adequadas de temperatura, pressão e iluminação. 

Órgão ficará em uma espécie de cálice de prata dourada

O órgão, com cerca de 9kg, só poderá ser visto quando estiver no interior da cripta montada no Itamaraty, em uma cápsula de vidro. Nas ações externas, a cápsula estará em uma âmbula (espécie de cálice) de prata dourada, revestida por uma urna de madeira.

No Brasil, o coração de D. Pedro I será acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, cargo que equivale ao de prefeito, no Brasil. Em solo brasileiro, a proteção ficará a cargo da Polícia Federal e das Forças Armadas.

O Itamaraty não informou o gasto total para trazer a relíquia ao Brasil, mas garante que os custos não foram altos, ficando próximos aos geralmente feitos com visitas de chefes de Estado.

“Termos o coração de D. Pedro I conosco, nas comemorações de 200 anos de independência, é algo cujo significado varia de pessoa para pessoa. Cada brasileiro terá sua maneira de ver o que isso tudo vai significar”, disse o embaixador Monteiro Prata.

“Mas, como todos sabemos, o coração é um símbolo sentimental. Nesse caso, o símbolo da herança e do afeto entre portugueses e brasileiros”, completou.

 

Corpo de D Pedro I está no Brasil há 50 anos

Apesar da ênfase do presidente Jair Bolsonaro, ministros e apoiadores em torno da vinda do coração do imperador ao Brasil, dizendo que simboliza que ele estará entre os brasileiros no Bicentenário da Independência, os restos mortais de D. Pedro I já estão no país há meio século.

Em 1972, aniversário de 150 anos da independência, seus restos mortais foram levados trazidos de Portugal – conforme ele havia pedido em seu testamento – acompanhado de grande pompa e honras dignas de um chefe de estado. 

Eles foram enterrados no Monumento à Independência do Brasil, na cidade de São Paulo, junto com os restos mortais de Maria Leopoldina e Amélia. Os três foram brevemente exumados em 2012 para que examinações e pesquisas arqueológicas e científicas fossem realizadas a fim de descobrir-se mais a respeito do imperador e das duas imperatrizes.